24.9.08

Sobre palavras

Quando estou conversando com uma amiga muito achegada ou com a Louise, em que posso descer do salto de jornalista, encerro algumas frases com sotaque e jeitinho bem mineiro. Só para você entender:

_ Louise, desabotoa primeiro que é mais fácil, boba!

Ontem, ela respondeu:

_ Pára de me chamar de boba porque eu vou acreditar.

Eu retruquei:

_E você vai ser o que as pessoas disserem, facilmente, assim?

Ao que ela, rapidamente, devolveu:

_ As pessoas não, mas você sim.

Ok. Um a zero para ela. Expliquei que é só um jeito de falar, mas que vou tentar não usar, se a incomoda.Na hora, lembrei de um livro que a amiga Márcia Costa, apresentadora de um programa de televisão, emprestou-me certa vez. “O poder da palavra dos pais”, de Elizabeth Pimentel.

Louise, como a maioria das crianças, (cá entre nós, adultos também) recebe muito bem os elogios. Para que ela continuasse a fazer algo, eu soltava:
_ Que desenho bonito!
_ Que mesa bem arrumada!
_ Que nota boa!

Minha irmã, Cristiane, toca muito bem piano. Estudamos juntas no Conservatório, mas não chego nem perto da habilidade e do ouvido dela e, para falar a verdade, nunca me esforcei para isso. Em dezembro, estava na TV Alterosa, SBT, em Juiz de Fora, Minas Gerais. A Louise passou um tempo com a Cristiane. Eu cheguei em casa e ela já estava tocando "Lady", de Lionel Richie, uma canção que eu vivia cantarolando. Fez isso porque eu gosto da música e com a ajuda da Cris, óbvio!

Eu elogiei, beijei, abracei e ela ficou se achando. Tocou Lady mais algumas vezes e deixou para lá. Minha mãe deu um teclado para ela e, já no Rio de Janeiro, longe das mãos de fada da tia Cris, eu fui ensinar outras músicas. Ter que se esforçar para ler partitura, aprender a posicionar as mãos começava a ficar chato e minha filha não queria mais tocar...

Fiquei pensando em como fazer para que a Louise não fosse acomodada... Uma reclamação de tantos pais... Achei um texto na revista Viver Mente e Cérebro interessantíssimo e, inclusive, li para a Louise.

Fala que crianças mais esforçadas costumar ir mais longe que as mais inteligentes. A foto era de uma criança tentando pegar algo no alto.

Com esse texto, me dei conta de que nós desvalorizamos nossos elogios. Outro comentário da Louise confirmou isso:
_ Mãe, meu cabelo está bonito?
_Lindo, querida!
_ Ah, você sempre diz isso...Para mãe a gente sempre é linda!

Aprendi naquele artigo o poder de um elogio em motivar qualidades e não o ego das crianças. A matéria dizia que devemos elogiar o caminho percorrido pelo pequeno para chegar ao que nos agradou.

Troquei os elogios citados no início deste texto. Substituí por:
_Como coloriu bem esse desenho! Fez com muita calma e capricho, parabéns!
_Que mesa linda! Você colocou os pratos e talheres com muita atenção!
_Que bom, você superou o desafio da prova de geografia. Isso mostra que se esforçou.

Olha, a mudança é quase instantânea. A Criança repete o comportamento que gerou o elogio e desenvolve uma postura diferente. Esses dias, pedi à Louise para pegar o chocolate para fazer um bolo. Estava bem no alto. Ela não reclamou. Tenho certeza de que lembrou do texto e da foto nele, porque me respondeu:
_ Vou buscar a cadeira porque criança esforçada vai mais longe!
Agora espero que o efeito chegue ao teclado na sala de estar...

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