30.9.08

Sobre chefs, estudantes, professores e pessoas

A revista eletrônica de domingo na Rede Globo, o Fantástico, exibiu uma matéria sobre professores que foram agredidos por alunos. Nos dois casos, as agressões foram sérias e os profissionais internados. Exemplos extremos de bullying. Um mal tão comum e pouco combatido.

Aliás, não é combatido porque a maioria de nós não sabe o modo certo de conviver com os outros. Desenvolver respeito às diferenças leva tempo e requer esforço e autodomínio. Não é a toa que na lista dos 10 medicamentos mais vendidos no país, a grande maioria seja drogas de comportamento: calmantes, antidepressivos etc.

Bom, há menos de um mês um adolescente chamado Samuel morreu por levar tapas e socos na cabeça. O motivo: os colegas não gostaram do corte de cabelo do garoto. Infelizmente, quando as histórias chegam a pontos extremos é que paramos para pensar.

Algumas cenas de bullying, nos corredores dos colégios, passam aos olhos dos adultos “responsáveis” como “apenas” brincadeiras sem graça, sem grandes conseqüências. Desse modo, a criança ou adolescente constrangido, assume sozinho a tristeza por ser obrigado a freqüentar um ambiente hostil, onde deveria haver espaço para aprendizagem e crescimento.

Na roda dos meninos, a vítima sofre com apelidos, palavrões, referência maldosa à família, violência física. O que foi claro no caso do Samuel, citado acima. No colégio, os funcionários disseram que Samuel era tímido, quieto e educado. Em casa, os pais afirmaram que o garoto não contou nada sobre o ocorrido.

Muitas vítimas do bullying não reclamam sobre a violência com pais e professores com medo de represálias. De fato, se um pai, mãe, criança ou professor resolver encarar a questão, pode ter problemas. Os mestres entrevistados pelo Fantástico que o digam! A questão é: enquanto todos não se unirem para combater o problema que já existe e para criar outra mentalidade nas crianças desde cedo, a situação não se alterará. Não dá para ficar pensando que enquanto não é com você tudo bem!

Contudo, será que estamos, de fato, preparados para ensinar isso aos nossos filhos? Preparados para aprender isso?

Entre as meninas, o bullying é mais camuflado. A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva explica que neste grupo, a violência é mais elaborada. As pré-adolescentes isolam uma garota, disseminam mentiras na internet, enviam torpedos com insultos que jogam qualquer auto-estima lá no chão.

Agora: Em quantas empresas você não assiste sabotagem semelhante? Quantas pessoas você conhece que não sabem lidar com a competitividade de forma saudável?

O conselho da especialista: reúnam provas do bullying e lutem em conjunto para vencer o mau.

Ótimo.

Entretanto, na prática, estamos ainda no início da caminhada pela construção de uma sociedade mais tolerante. Aliás, toleramos o mau e não toleramos as diferenças que nos tornam únicos.

Por favor, ensinem aos seus filhos que o amor constrói. Que unindo ponto de vistas diferentes, fazemos um trabalho melhor. Que redes de relacionamentos não são caderninhos interesseiros com o nome e telefone de quem pode nos prestar favores. Que relacionamento é olhar nos olhos, é escutar com a alma, é caminhar juntos e estar sempre disposto a dar.

Como a minha mãe dizia: “Amor com amor se paga”. A caminhada é mais longa, os valores requerem mais autocontrole, mais disciplina para se arraigarem, mas os frutos são mais saborosos.

Ver um garoto desesperado atirar numa turma inteira e cometer suicídio é o fundo do poço.

Hoje de manhã, assisti com minha filha de 8 anos, como habitualmente, ao “Mais você”. Vi o desespero de Leoni, uma garota simples, brava, lutadora, ao ouvir, incrédula, que tinha vencido uma votação popular e que continuava na disputa pelo chapéu de Super Chef. Minutos depois de sair chorando como a vencedora, Leoni pediu para deixar o programa. Ana Maria Braga cobrou, no ar, que ela tivesse mais consideração, porque se o pedido para sair tivesse sido feito antes, a outra concorrente permaneceria na disputa. Leoni simplesmente não acreditava que pudesse ficar. Ela nem acreditou ao ouvir isso da boca da apresentadora. E sua luta não era mais por mostrar habilidades na cozinha. O grupo, certo de seu apelo popular, tratava Leoni de forma diferente. Alguns eram claros. Foram ao limite do que não ficaria feio dizer e fazer em um programa nacional. Imagino, com muita dó, a pressão que essa menina enfrentou e espero que ela aprenda a conviver melhor com os outros, sinceramente, mas isso não justifica o comportamento de exclusão do grupo.

Gosto muito do reality porque ele ensina bastante a quem está em casa, valoriza uma profissão e cumpre o papel de entreter. Queria eu, apenas, que todos os participantes _ e alguns estão_ estivessem lá aprendendo, ensinando, trocando, divertindo-se e, principalmente, fazendo dos concorrentes, amigos, sócios, parceiros para a vida fora da caixa preta.

Não acredito numa mudança rápida na escola, no trabalho, nos realitys - que nada mais fazem, senão esfregar na nossa cara o jogo da vida real - mas começar com nossos filhos,vai fazer com que eles sejam pessoas melhores que nós.

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